
Treinador quer passar imagem de seleção perfeita, mas existem rusgas no grupo
A forte discussão entre Daniel Alves e Julio Baptista expôs a “Família Dunga”. O grupo que repete como um mantra estar unido como irmãos tem seus momentos de Caim e Abel. A tensão por disputar uma Copa do Mundo é sempre enorme, por mais que todos tentem disfarçar. Se o treinador brasileiro não fosse firme com os dois, havia até a possibilidade que a discussão terminasse em briga. Não houve reconciliação entre eles no gramado, para mostrar à imprensa que tudo terminou bem na Randburg Hill School. A seleção brasileira não é tão imaculada.
E não foi o primeiro escorregão. Como esquecer o que aconteceu entre Kaká e Robinho ainda no início dos treinamentos em Johannesburgo? O meia já mostrava estar mal fisicamente, não conseguia render em campo. Travado, perdia a bola com facilidade de seus marcadores e se irritava. Tudo ficou pior quando, em uma dividida, Robinho lhe deu um pontapé. Como Felipe Melo estava na jogada e tentou levantar o meia do Real Madrid, Kaká não aceitou a mão estendida e levantou sem olhar para seu rosto. O volante ainda tentou conversar, mas Kaká saiu de perto. Só no meio do treino, ele soube que havia sido Robinho. O que fez? Devolveu o pontapé.
A imprensa italiana foi mal informada e publicou que Kaká e Felipe Melo haviam brigado. No final do treinamento do dia seguinte, os dois se abraçaram diante das câmeras. A reconciliação foi forçada, artificial, mas imposta por Dunga. A aparência importa demais para o técnico brasileiro.
O treinador viveu também outra situação complicada com a desobediência de Robinho. Dunga quer que, de qualquer maneira, o time não se exponha à imprensa sem estar sob o seu controle. Ele quer apenas entrevistas coletivas, das quais o treinador pode ter a cópia quando quiser. As coletivas na África do Sul são filmadas e gravadas pela assessoria de imprensa da CBF. Assim que as perguntas terminam, os jogadores têm ordem de ir embora sem conversas paralelas com jornalistas. Há até seguranças que impedem os repórteres de se aproximarem. Nada é por acaso.
Mas Robinho furou este esquema na segunda folga que a equipe teve na África do Sul. Ele é o jogador menos controlável de todo o elenco e acabou dando entrevista fora da concentração. Resultado: o jogador tomou uma reprimenda e teve de se desculpar perante todo o grupo. A história vazou e a pose de uma família unida, harmoniosa, acabou. A situação ficou tão constrangedora que a assessoria da CBF publicou um comunicado público desmentindo a reprimenda e o pedido de desculpas.
É mais do que provável que hoje Julio Baptista e Daniel Alves posem para as fotos se abraçando, rindo, como se fossem os melhores amigos desde a infância. Essa é a imagem que Dunga gostaria que a sua seleção passasse aos torcedores, mas ele mesmo sabe que, nos seus anos como jogador, quando a seleção brasileira entrava em campo de mãos dadas, para mostrar união, muitos se odiavam. Mas o importante era e sempre será a imagem.
A “família Dunga” tem seus problemas, suas rusgas. Daniel Alves sabe que é o grande injustiçado deste grupo e deveria ser titular, na lateral, como segundo volante ou até meia, e Julio Baptista vê Kaká jogar e treinar mal e Dunga não o testa de verdade. Os reservas têm motivos para estar raivosos. E nenhum discurso motivacional de Dunga consegue controlá-los. A Copa nem começou para o Brasil.
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